sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Evoluímos, de fato? (ou, de que vale mil horas de estudos e rituais, se vc é mal educado com o vizinho?)

Uma das reflexões que venho fazendo, há alguns anos, é sobre o fato de observar pessoas e grupos que se dedicam às questões espirituais durante anos, às vezes décadas, e que apesar de todo o seu conhecimento teórico e prático sobre a espiritualidade, a saúde global (incluindo o físico, o mental, o emocional e o energético) e o relacionamento virtuoso com todos os seres, com muita facilidade parecem se esquecer de tudo isso. É como se houvesse um momento certo para "entrar no palco" e assumir um papel, mas quando se retorna ao "piloto automático", tudo vai por água abaixo.

Um dos questionamentos que faço é: será que, de fato, nós somos "transformáveis"? Será que a prática da espiritualidade, em seus variados aspectos, pode dar formas harmoniosas à nossa conduta, ao nosso caráter e mesmo à nossa alma, da mesma maneira que exercícios físicos modelam nossos músculos? Esta é uma dúvida que carrego há muito tempo.

Na maior parte das vezes, creio que temos, todos, que viver a filosofia do AA - só por hoje - e manter a certeza de que não estamos curados, definitivamente, da nossa estupidez humana (ou desumana), do nosso egoísmo, nossa ingratidão, nosso egocentrismo, nossa incapacidade de enxergar nossos próprios erros em dissonância com nossa incrível facilidade de apontar o erro dos outros. Sinto que ou nos vigiamos 24h por dia para sairmos desse péssimo condicionamento, ou por mais que façamos todas as meditações, yogas, tai-chis, orações, rituais, estudos e pesquisas para engrandecimento humano, continuaremos sendo somente isto: seres que continuam sendo, exatamente, do mesmo jeitinho que éramos há 10, 20, 30, 40... anos atrás. Com um vernizinho sem vergonha por cima, mas por baixo, a mesma coisa...

Lamentavelmente, não voltamos a ser criança, época em que somos mais espírito do que matéria, época em que ainda somos uma tela em branco. Quando saímos daquele frágil estado de semi-iluminação, alcançado por maratonas de samadhis, retornamos a ser o que éramos a partir do momento em que as mágoas, as dores, as raivas, as carências e outras tantas coisas já haviam deturpado nossa natureza original e pura.

Sempre que algo me faz refletir sobre tudo isso, sou tomada pela suspeita de que todo este incrível arsenal de atividades evolutivas são menos eficazes do que gostaríamos. Ou que as "tecnologias da luz" são muito boas, mas são como boa semente que em solo pobre, não germinam... Normalmente, depois de analisar tudo isso, como é meu temperamento ser otimista, retorno ao ponto de partida e penso: quem sabe se com persistência, se chega lá? Eu acredito que sim... Mas isso exige trabalho diário e hercúleo, exige refletir sobre cada ato, cada gesto, cada palavra... Exige até mesmo praticar mais as palavrinhas mágicas: por favor, obrigada, me desculpe (uma forma mais infantil, porém super-válida de "Eu te amo, sinto muito, me perdoa, sou grata")... Exige olhar pra dentro de si e analisar as próprias posturas, antes de apontar o dedo e elevar a voz para o outro... Exige um olhar generoso às limitações dos outros, especialmente quando eles são generosos quando nós estamos limitados...

Ainda temos tanto a aprender que pensar que já chegamos a algum ponto de estabilidade neste processo de trabalho interior é mais que pretensão, é cegueira! Não conheci até hoje uma só pessoa que conseguisse se manter, ao menos em um nível de equilíbrio e harmonia, consigo e com os outros, por mais de uma semana. Para algumas pessoas, dois ou três dias já são uma vitória! Isso sem falar daquelas que são boazinhas quando estão frágeis, mas basta se fortalecerem para começar a espalhar sua aspereza... Ou as que, ao contrário, só sabem ser evoluídas quando tudo está bem, mas diante da primeira dificuldade perturbam a vida de todos em volta.

Sim, ainda temos muito a evoluir como ser que quer se dizer humano. Muito. Todos. Sem exceção.